Castanha

27 outubro 2005

Insenso

Apetece-me um pouco de insenso e tranquilidade espiritual....

20 outubro 2005

Saudade...



... de um mar assim!

19 outubro 2005

Retrato de Mónica

"Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da «Liga Internacional das Mulheres Inúteis», ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria.
Tenho conhecido na vida muitas pessoas parecidas com a Mónica. Mas são só a sua caricatura. Esquecem-se sempre ou do ioga ou da pintura abstracta.
Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol.
De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.
A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
Isto obriga Mónica a observar uma disciplina severa. Como se diz no circo, «qualquer distracção pode causar a morte do artista». Mónica nunca tem uma distracção. Todos os seus vestidos são bem escolhidos e todos os seus amigos são úteis. Como um instrumento de precisão, ela mede o grau de utilidade de todas as situações e de todas as pessoas. E como um cavalo bem ensinado, ela salta sem tocar os obstáculos e limpa todos os percursos. Por isso tudo lhe corre bem, até os desgostos.
Os jantares de Mónica também correm sempre muito bem. Cada lugar é um emprego de capital. A comida é óptima e na conversa toda a gente está sempre de acordo, porque Mónica nunca convida pessoas que possam ter opiniões inoportunas. Ela põe a sua inteligência ao serviço da estupidez. Ou, mais exactamente: a sua inteligência é feita da estupidez dos outros. Esta é a forma de inteligência que garante o domínio. Por isso o reino de Mónica é sólido e grande.
Ela é íntima de mandarins e de banqueiros e é também íntima de manicuras, caixeiros e cabeleireiros. Quando ela chega a um cabeleireiro ou a uma loja, fala sempre com a voz num tom mais elevado para que todos compreendam que ela chegou. E precipitam-se manicuras e caixeiros. A chegada de Mónica é, em toda a parte, sempre um sucesso. Quando ela está na praia, o próprio Sol se enerva.
O marido de Mónica é um pobre diabo que Mónica transformou num homem importantíssimo. Deste marido maçador Mónica tem tirado o máximo rendimento. Ela ajuda-o, aconselha-o, governa-o. Quando ele é nomeado administrador de mais alguma coisa, é Mónica que é nomeada. Eles não são o homem e a mulher. Não são o casamento. São, antes, dois sócios trabalhando para o triunfo da mesma firma. O contrato que os une é indissolúvel, pois o divórcio arruína as situações mundanas. O mundo dos negócios é bem-pensante.
É por isso que Mónica, tendo renunciado à santidade, se dedica com grande dinamismo a obras de caridade. Ela faz casacos de tricot para as crianças que os seus amigos condenam à fome. Às vezes, quando os casacos estão prontos, as crianças já morreram de fome. Mas a vida continua. E o sucesso de Mónica também. Ela todos os anos parece mais nova. A miséria, a humilhação, a ruína não roçam sequer a fímbria dos seus vestidos. Entre ela e os humilhados e ofendidos não há nada de comum.
E por isso Mónica está nas melhores relações com o Príncipe deste Mundo. Ela é sua partidária fiel, cantora das suas virtudes, admiradora de seus silêncios e de seus discursos. Admiradora da sua obra, que está ao serviço dela, admiradora do seu espírito, que ela serve.
Pode-se dizer que em cada edifício construído neste tempo houve sempre uma pedra trazida por Mónica.
Há vários meses que não vejo Mónica. Ultimamente contaram-me que em certa festa ela estivera muito tempo conversando com o Príncipe deste Mundo. Falavam os dois com grande intimidade. Nisto não há evidentemente, nenhum mal. Toda a gente sabe que Mónica é seriíssima toda a gente sabe que o Príncipe deste Mundo é um homem austero e casto.
Não é o desejo do amor que os une. O que os une e justamente uma vontade sem amor.
E é natural que ele mostre publicamente a sua gratidão por Mónica. Todos sabemos que ela é o seu maior apoio; mais firme fundamento do seu poder."

Sophia de Mello Breyner Andresen
in Contos Exemplares

Há muitos anos atrás ouvi este texto dramatizado pela Maria do Céu Guerra no Teatro Académico de Gil Vicente...A Actriz, sózinha em palco, sentou-se e disse "Hoje quero falar-vos de uma amiga minha, a Mónica" e falou... e ainda hoje penso nas Mónicas deste mundo...

17 outubro 2005

Porquê?


Obrigada M. pela foto Posted by Picasa
Que Mundo te gerou??? que sociedade te pariu??? que culpa tens disso??? a quem pediste para nascer??? quem são os donos do teu crescer??? do teu ser??? Em que és menos ou mais que os outros meninos gerados por outros pais noutros continentes ou locais, ou classes sociais??? Podias ser eu e eu podia ser tu...podia!!!!

14 outubro 2005

Outono


Gosto do Outono! Gosto das novas roupagens dos castanheiros e dos vinhedos, dos tons pastel, dos nevoeiros matinais, do sol que espreita, daquele vento frio (o "barabeiro", como lhe chamamos) que nos faz procurar as soleiras das portas... do cheiro das fogueiras que aquecem os "lares"... do aroma que sai dos "potes" onde se confeccionam refeições com a simplicidade e a qualidade de milhares de anos de experiências realizadas por mãos calejadas e sábias... (porque é a simplicidade tão demorada e difícil de alcançar???).
Gosto do apetite voraz que me assalta nesta época. Imagino que seja o mesmo apetite que têm os animais que hibernam... Apetecem-me doces. Aqueles doces... cada ingrediente com uma ou várias histórias... Aqueles doces que sabem melhor quando partilhados... Deixo-vos o desafio de prepararem e partilharem um deles...

Bolo de Castanhas

Ingredientes:
300 g de açúcar amarelo
100 g de manteiga
150 g de puré de castanhas
60 g de farinha
100 g de nozes
8 ovos
1 colher de café de bicarbonato de sódio
1 colher de sopa de mel
Aguardente q.b.

Confecção
Faça o puré de castanhas e deixe algumas inteiras de parte (quem não souber como se faz, pergunte!)
Misture as gemas com o açúcar, o mel, o puré de castanhas, a manteiga – previamente derretida - e a aguardente (não abuse!)
A este preparado acrescente a farinha, as nozes partidas e as castanhas que tinha reservado partidas ao meio.
A esta massa adicione as claras batidas em castelo firme, envolvendo cuidadosamente.
Coza, em forma untada com manteiga e polvilhada com farinha, durante cerca de 1 hora, em forno com temperatura moderada.

Desenforme. Deixe arrefecer antes de comer!
Vá lá... convide!

04 outubro 2005

Apetece-me Verde



Estou cansada de calor!
Apetece-me um verde que sugira um riacho a cantarolar...
Um País que páre de arder...
Apetece-me... um feto de esperança!